A intolerância racial
O Brasil tem uma tradição histórica cínica, dissimulada e atroz para com os de cor negra. Não bastasse o martírio ocasionado a milhões de egressos do continente africano, que aqui foram brutalmente humilhados e seviciados, fomos o útimo dos países a aderir ao fim do sistema escravo nas relações de trabalho.
A escravidão foi uma chaga que dilacerou o planeta, sendo até os séculos XVIII e XIX a forma dominante de organização do trabalho.
Tão grave quanto à escravidão negra, foi o nazi-fascismo que, originando-se na Europa, logo varreu o mundo, estendendo seus tentáculos pelos continentes, até chegar também ao Brasil.
O genocídio contra os judeus ilustra a que ponto pode chegar a atrocidade humana, quando impregnada de dogmatismo religioso ou ideológico. Os nazistas chegaram a exterminar dois quintos do povo judeu. No campo do dogmatismo ideológico a história de Olga Benário, mulher de Luiz Carlos Prestes é referência. Presa no Brasil foi entregue pelo governo brasileiro ao governo alemão, para ser torturada e executada em campo de concentração.
Os judeus constituem um dos povos do mundo mais marcados pela intolerância racial. De modo que causa espécie o fato de ter brotado no seio do judaísmo uma das mais perversas formas de racismo do mundo contemporâneo: o sionismo.
Quando as religiões e as ideologias impõem a hipocrisia do preconceito racial, a ciência anuncia uma descoberta que deve – em curto prazo, resgatar a tolerância e a harmonia entre os diferentes.
Os últimos avanços da ciência no campo da genética registram uma surpreendente novidade: os estudos apontam que os chipanzés apresentam 99,4% de semelhanças com o homem – quando se coteja as informações gravadas nos respectivos DNA`s. Ou seja, nos separam de nosso irmão macaco uma pequena fração de apenas 0,6% de diferenças. Em todo o resto somos iguais. Rigorosamente iguais.
O naturalista inglês Charles Darwin, já no século XIX, em seu livro A Origem das Espécies, provocou no mundo forte impacto, ao discorrer sobre a ancestralidade comum existente entre a espécie humana e os demais primatas. Recebeu forte pressão e resistência dos setores conservadores, sobretudo religiosos. Resistência que resiste aos dias atuais: em algumas escolas religiosas dos Estados Unidos da América, os livros e a teoria evolucionista de Darwin são simplesmente ignorados nas aulas de ciências.
O fato é que os recentes estudos genéticos impactaram de tal modo os intelectuais e os membros da comunidade acadêmica, que levou o cientista americano Morris Goodman a publicar na revista científica PNAS, um estudo em que defende a inclusão dos chipanzés (Pan troglodytes) no gênero Homo, dado às semelhanças do DNA.
Os estudos desmontam e desmascaram a farsa criada pelos ativistas racistas que estruturaram teorias embasadas em teses e conceitos aparentemente científicos, mas que agora se provou completamente artificiais, equivocadas e enviesadas ideologicamente.
A ciência evidencia de forma categórica que pode haver mais semelhanças entre os todos poderosos idiotas Adolf Hitler (alemão) e Id Amin Dada (africano), do que entre dois vizinhos africanos; ou dois amigos alemães.
Comungando a mesma origem e parte da mesma trajetória na escala evolucionista, os homens e Chipanzés tomaram diferentes caminhos há seis milhões de anos, período em que as diferenças, agora divulgadas, se processaram.
A realidade é que o homem conseguiu dominar a característica singular de captar, desenvolver, acumular e transferir conhecimento; característica que o tornou único no planeta.
Portanto, as diferenças entre os diversos povos, devem-se, quase em nenhum grau, aos fatores intrinsecamente raciais. O determinante nas diferenças decorrem sobretudo do componente ambiental, conformado pelas condições da natureza; e do componente cultural, determinado pelas relações sociais.
É o que já dizia, nos idos de 1933, o sociólogo Gilberto Freyre em seu Casa-Grande & Senzala, que recebeu o cobiçado premio norte americano de “a melhor obra sobre relações inter-raciais”.
À discriminação racial também se soma uma outra, em exponencial expansão no Brasil, a discriminação social. É cada vez maior no país o número dos despossuidos, dos excluídos, dos privados das condições mínimas de sobrevivência.
Expressões populares de humor duvidoso como “...no Brasil só três p`s habitam as cadeias; preto, pobre e puta...”; e “...branco quando corre está fazendo Cooper, e preto quando corre está fugindo da polícia...” evidenciam o quanto as discriminações racial e social estão incorporadas no imaginário popular.
No seio das famílias, nas escolas e na sociedade, os pais, professores e gestores públicos devem estar atentos para responder adequadamente a esta questão.
Não há como construir uma sociedade democrática e justa para todos, se nossos conceitos tiverem como parâmetro estrutural a intolerância. E a educação é o esteio capaz de assegurar que os educandos de hoje sejam os cidadãos fraternos e progressistas do amanhã.
Artigo publicado na Revista Bula e no portal da Associação dos Professores de São Paulo.
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